Cartas e recordações

Dia das mães – 2000

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Esta carta escrevi no dia das mães de 2000 e li na Igreja.

Sabe, mãe, era noite, estava sozinho, saí para olhar o céu, estava lindo, claro demais. De repente um brilho corta o firmamento, era uma estrela cadente, como que por encanto passo por mim um filme de minha vida e me veio uma pergunta: Porque tudo passa?

Me lembrei quando criança, estava muito enfermo, você me pegou no colo foi até a janela e apontando para as estrelas me disse: “Está vendo? São todas suas, vamos dar nomes a elas”. E ali ficamos por muito tempo e pude perceber que seus olhos brilhavam mais que as estrelas.

Me lembrei quando ficava triste e chorava, você sempre estava por perto e me abraçando e beijando dizia: “Não desanime, meu filho. Tudo isso vai passar”, e pude perceber que seus olhos tinham mais lágrimas que os meus.

Me lembrei quando juntos íamos ao cinema e riamos ou chorávamos conforme a história do filme. Mas um dia sem querer, olhei para o lado e vi que você não olhava para a tela e sim para mim, e pude perceber o que mais importava para você não era a história do filme, e sim a história da minha vida, que você estava ajudando a construir.

Me lembrei quando fracassava em alguma coisa ou desanimava frente a alguma adversidade, você chegava perto e dizia: “Filho não desanime, tudo vai passar. Você já fez coisas que nunca fiz na vida, você é um herói”. Agora vejo que a heroína era você, mãe.

Me lembrei do meu casamento, a igreja era pequena, tinha pouca gente, mas você estava ali, logo na frente, quando nos abraçamos entre lágrimas me disse: “Agora você é marido, um dia vai ser pai. Ame sua esposa e filhos, tenha tempo para eles, role pela grama, ande de bicicleta, vá ao cinema, vá ver a fonte, as águas são coloridas, não corra muito pois tudo passa”.

Me lembrei de uma noite, você chegou em minha casa minha filha estava doente e eu chorava, pegou em minhas mãos me levou até a janela e disse: “Está vendo, meu filho, aquelas estrelas que um dia  nós admiramos e demos nomes a todas elas? Já foram todas suas, repare bem, estão todas lá no mesmo lugar, e sabe por quê? Estão à espera que um pai ou mãe, com filho adulto ou criança, enfermo ou não, veja a grandeza de Deus, vá até a janela, admire-as, tome posse, e de nome a todas elas”. “Já sei, mãe: vou correndo pegar minha filha no colo, levá-la até a janela, pois um dia você disse que tudo passa”. Aí, segurando em minhas mãos me abraça e diz: “Não, meu filho, não te ensinei tudo ainda. Uma coisa nunca passa: é o amor de mãe. Te amei no ventre, criança, adolescente, te amei jovem, te amei adulto e pai e te amarei por todo sempre”.

E acariciando meu rosto, me beija, sorri e diz: “Agora vá, vá buscar sua filha, leve-a até a janela observe as estrelas, dê nome a todas elas.”

Airton – 14/05/2000

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