Cartas e recordações

Casamento do Marcelo e da Mariana

COMPARTILHE

Meu filho…

Para alguns Marcelo, para muitos Bogs, para mim simplesmente “Má”.

Sabe filho, foi muito difícil escrever esta pequena carta, pois a idade vem chegando, o coração vai ficando mais sensível e as lágrimas insistem em cair.

Mas não poderia deixar passar esta oportunidade para te dizer que você tornou a missão de pai muito mais fácil. Te ensinei algumas coisas, mas você me ensinou a principal. Corrigi alguns rumos, mas você me ensinou o caminho. Te mostrei que na vida nós temos problemas, e você me mostrou Deus, em quem devemos confiar.

Sim, Má, ao seu lado passei momentos inesquecíveis, destes que o tempo nunca vai apagar. Me lembro de você criança, quando começou a andar, corria para meus braços e num longo abraço me sentia o maior dos mortais. Do pega-pega, você era tão rápido e eu tão lento, nunca conseguia te pegar. Do esconde-esconde, você se escondia sempre no mesmo lugar e eu, e eu Má, nunca conseguia te encontrar. Das nossa idas a praia, dos castelos de areia que a maré cheia insistia em derrubar. Dos bonecos de super-heróis que você gostava tanto de brincar. Veja só que engraçado, me deu saudade de tudo, até do barulho da bateria, nas tardes preguiçosas de domingo, que eu queria descansar. Das nossas idas ao cinema, onde procurávamos os diálogos e as cenas que mais nos marcaram para depois conversarmos. Mas quero te confessar uma coisa: tudo isto era desculpa, pois o que marcava mesmo era ter você ao meu lado.

Que saudade, Má! Que saudade do eclipse demorado, do pôr do Sol alaranjado que nunca deveria acabar. Daquela noite na varanda, da queima de fogos que parecia que era só para nós. Daquela cidade, segredo nosso, tão pequenina, onde as cartas eram entregues por uma senhora idosa, bem velhinha, na sua bicicleta a pedalar, onde ninguém tinha pressa, e engraçado, parece que até o relógio trabalhava mais devagar. E lá você me disse uma coisa que nunca vou me esquecer: “Pai, quando o senhor estiver nervoso, agitado, lembre-se desta cidade, que com certeza vai te acalmar”.
Mas de tudo que passamos, um fato marcou muito minha vida, para você talvez não foi o mais importante, mas para mim foi o principal. Foi num dia comum, nada de especial. Como pai senti que precisava ter uma conversa com você, corrigir alguns rumos. Peguei um banquinho, coloquei no lugar que você mais gostava de estar. Me lembro como se fosse hoje, minhas palavras foram estas: “Má meu filho, vou te falar uma coisa que talvez você não goste de escutar, mas faço porque te amo, e como pai tenho dever e responsabilidade e nunca quero me omitir. E gostaria que se um dia você tiver filho e precisar, faça o mesmo”. E ali conversamos por muito tempo, e depois num longo abraço, entre lágrimas, trocamos juras de amor. Sim, porque se enganam os poetas e menestréis que acreditam que elas só servem para os namorados, mas servem também para pais e filhos. Naquele momento pude sentir a coisa mais importante que um pai poderia sentir: eu tinha o seu coração, meu filho.

Má, agora você está se casando, e alguns conselhos quero te dar: ame muito a Mariana, mas lembre-se, amar só não basta, tenha atitudes, respeite-a sempre, se perto ou longe estiver. Procure não gritar nem erguer a voz ao conversar. Andem sempre de mãos dadas, mesmo depois que a idade chegar. Escreva cartas, mande flores, nunca deixe o romantismo acabar.
Se Deus der a vocês a graça de terem filhos, levem ao circo, ao cinema, andem de pedalinho, brinquem de pega-pega, vocês vão ver como eles são tão rápidos e vocês tão lentos, que é difícil de pegar. Brinquem de esconde-esconde, talvez eles se escondam sempre no mesmo lugar, e vocês vão ver como é difícil de encontrar. Comam pipoca, contem histórias de príncipes e princesas, falem de Deus e de Sua grandeza, de Cristo e do que Ele fez por nós.

Parem para ver um eclipse, nem que demorado for. Assistam a um pôr do Sol, talvez vocês dêem sorte e ele seja alaranjado. Mas acima de tudo valorizem as pequenas coisas, pois nelas estão a verdadeira felicidade.

Mas se um dia seu filho precisar, não tenha vergonha, pegue um banquinho, coloque no lugar que ele mais gosta de ficar, convide-o para sentar, conversem, depois se abracem e com certeza Deus vai te dar a suprema graça, que eu tive um dia de ouvir de um filho simplesmente:

“Meu pai, eu te amo”.

Airton – 22/08/2009

COMPARTILHE
Envie-nos uma mensagem