Esta talvez seja minha primeira carta. Foi escrita na Avenida São Jerônimo, durante uma brincadeira com minhas filhas, onde eu era aluno e elas as professoras. Foram me dando a lição e eu escrevendo, e depois de terminado pedi para ler, e nós todos começamos a chorar. Segue o que escrevi num dia que jamais se apagará da minha mente.
Ser criança é sonhar com os olhos fechados, é sorrir com pureza, é chorar com sinceridade, é amar com toda força, é não conseguir ter ódio, é brincar com um simples papel ou uma boneca já velha. Ser criança é correr na hora de comer e querer comer na hora da correria.
Ser criança é não querer resolver os problemas dos adultos, é querer molhar a cabeça e todo o corpo na chuva fininha, é querer tirar a blusa no inverno e ficar alheia ao frio que nos faz tremer.
Sabe, filhas, vocês são crianças, simplesmente crianças. Por isso papai as admira, e às vezes me da vontade de ser como vocês: sem me envolver nos problemas do mundo, e achar a felicidade como vocês a acham, em um pedaço de papel, em uma boneca velha.
Só sorrir quando tem vontade, e só chorar quando o coração mandar.
Assim são vocês, e por isso as admiro.
Papai Airton – 13/10/1979