Cartas e recordações

Carta para a Patrícia e a Luciane

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Pá e Lú, não sei por que resolvi escrever estas linhas, nem sei se vocês vão ter paciência ou tempo para lê-las, mas me deu vontade e tenho certeza que fui movido pelo amor e a ele eu não resisto.

Quero começar dizendo a vocês que não é fácil ser pai e disto eu tenho consciência, sei que acerto algumas vezes, mas também sei que erro muito, mas procurem perceber que não erro por omissão e muitas vezes exagero até chegar à intromissão.

Procurem fazer um retrospecto de suas vidas, pensem um pouco, pensem um pouco mais, vejam se na caminhada toda que fizeram se sentiram uma vez que fosse sozinhas ou desamparadas. Sempre a mamãe e o papai estavam ao lado de vocês.

Nunca vocês escorregaram que não tivesse uma mão, nunca foi negado o ombro amigo, nunca faltou o apoio na hora da fraqueza.

Queria que soubessem que tudo que fiz até hoje por vocês, continuarei a fazer até que um dia Deus me leve, pois tudo que faço é movido pelo amor, o enorme amor que sinto por vocês.

Agora quero pedir desculpas se às vezes me intrometo querendo resolver problemas que só dizem respeito a vocês. É, eu me esqueço que cresceram, que já não cabem mais em meus braços. Mas saibam que isto não faço por querer, é que quando dou por mim já fiz. Vocês já sabem minha opinião, não sabem?

Sempre sou a favor de aproveitarem a juventude de forma sadia, alegre, sem vícios, sem nunca brincar nem pisar com o sentimento dos outros, pois com certeza estarão firmando suas vidas em um ótimo alicerce.

Vamos falar um pouco do coraçãozinho que as vezes não bate, apanha, e aí a gente sofre em bocado. Vocês encontram um menino, trocam olhares, a primeira conversa, o primeiro toque na mão, o olhar brilha (brega, né?), pronto… é o amor. Aí começa o drama: “Não sei se ele gosta de mim, não sei se me ama, ele não me procura”, então parece que o mundo vai desabar. Fiquem sabendo que esta historia é tão antiga como antigo é o mundo.

Não há mal nenhum em amar, pelo contrário, o mundo carece de amor. O mal está em colocar tudo neste amor, se jogar a felicidade, se jogar a alegria, se jogar a própria vida, enfim, se anular por completo.

O amor é o maior dom que Deus nos deixou. O amor é leve, não arde em ciúmes, o amor é alegre, o amor, sim o verdadeiro amor nos traz paz, segurança, confiança, e tenham certeza de que se não sentirem tudo isto, não é amor e sim paixão.

Estou escrevendo não para arrumar ou escolher namorados para vocês, pois sempre fui contrário a isso, o que posso fazer e o faço de coração é orar a Deus para que coloque em suas vidas pessoas normais, com defeitos e qualidades, mas que acima de tudo amem muito a vocês e sejam tementes a Deus.

Quero também que sempre, por toda a vida, fiquem atentas para o final de ano, é um tempo de muita alegria, é o nascimento do nosso salvador, mas também é o fim de uma jornada onde os nervos estão à flor da pele, todo mundo pronto a explodir com todos. Vamos, no que depender de nós, transmitirmos calma e serenidade.

Para terminar, quero pedir desculpas se lhes magoei por algum motivo e dizer que estarei sempre pronto para corrigir meu erro.

Lembrem-se que nunca passei a vocês a imagem de um pai perfeito, e sim de um pai falível e que erra muito, mas sempre tentando acertar.

Pá, não desanime, leve consigo sempre este pensamento: “mais vale a tristeza de uma derrota que a vergonha de nunca ter lutado.” E vai aqui um consolo: de todos de casa que temos carta você foi a que menos bateu.

Bem, como disse no começo, não sei por que resolvi escrever estas linhas, talvez esteja sentindo falta de conversar, de saber dos seus problemas, ou talvez eu já esteja ficando um pouco velho e chato.

Fica só uma certeza:

Eu as amo muito.

Airton – 11/12/1990

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