Cartas e recordações

Casa nº 817

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Um pedacinho de verde perto de um riacho, algumas árvores e um parquinho feito com muito amor. Mas espere um pouco… está faltando a casinha delas! E lá estava, depois de algum tempo, uma casinha toda branca, janelinhas azuis, e a festa estava feita.

Todas as manhãs era só abrir a porta e lá iam elas: “Eu sou mamãe, você é a filhinha”. “Pá, Lú, o almoço está pronto”, e é lógico que elas não vinham. Mas depois de algum tempo de insistência, e já com a fome apertando, lá vinham elas a virar cambote até chegar em casa.

Sabe, Rita, estou escrevendo isto para te dizer que hoje estive na chácara e não tinha ninguém, então parei em uma sombra do gramado e sentei.

Ao olhar ao redor me veio à mente todos os momentos que lá passamos, e meus olhos se encheram de lágrimas, pois você não pode imaginar como tudo aquilo é triste sem vocês. Parece que via ali mesmo em minha frente tudo que ali vivemos, e ao olhar para a casinha das meninas, reparei que ela já não era mais branquinha como quando a fizemos, pois além das marcas do tempo haviam também as marcas delas, com um número, pois toda casa tem, e elas também por certo acharam que a delas também deveria ter, e ali está:  “817”,  feito com lápis, além de algumas palavrinhas de quem está querendo aprender a escrever.

Aí a gente para e pensa que a felicidade está nestas pequenas coisinhas, que a gente tem vontade que nunca acabem. E é por isso talvez que o mundo não seja feliz, pois basta isto: ver o anoitecer juntos, ver o Sol brilhar para um novo dia, o riso realmente alegre de uma criança, e o seu chorar manhoso a procura de um abraço e um beijo.

Continuemos sempre assim, Ritinha, vamos dar o devido valor a nós e principalmente as crianças, vivendo uma vida realmente de amor, para que um dia, quando elas já forem grandes, nós possamos olhar para uma balança vazia, para uma casa toda arrumadinha, e possamos, com os olhos molhados de saudade, mas com um sorriso de dever cumprido, lembrar que aquela balança sempre tinha alguém e aquela casa não era tão arrumadinha assim.

A vocês,

Ritinha, Patricinha, Lucianinha e Airtinho

Com muito amor…

Airton – 08/06/1979

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