Esta carta li no casamento do Jú e a Pri.
Junior, me lembro quando você nasceu, eu não sabia se ria ou chorava, corri anunciar para toda vizinhança, era pai pela terceira vez, mas parecia ser a primeira, pois para o pai todo filho é único. Cabelos cacheados, quase da cor do ouro, cara de bravo, me lembro como se fosse hoje.
Me lembro de você pequeno, martelo na mão, em instantes transformava pedaços de madeira em um lindo avião, da moto de plástico, do capacete meio torto na sua cabeça, me lembro do estilingue, do jogo de bola e do carrinho de rolimã.
Me lembro do primeiro dia que foi para escola, os primeiros desenhos, as primeiras palavras, não sei se você sabe mas alguns cadernos guardo até hoje.
Me lembro de todos os detalhes da sua infância, adolescência, mas um fato me marcou muito e quero te contar: foi no dia 28 de março de 86, no dia anterior você tinha completado sete anos e te demos uma bicicletinha de presente. Nossa aventura foi descermos até o centro da cidade. Você se encantou quando atravessamos as linhas do trem, seus olhos brilhavam. Com muita dificuldade passamos o trânsito e chegamos ao mercado, e a sombra de uma árvore nos lambuzamos de sorvete. Depois a longa subida até nossa casa, quero te confessar uma coisa, fazia algum tempo que eu não andava de bicicleta, cheguei com as pernas bambas, mas o coração radiante pois naquele dia me senti como uma criança.
Obrigado filho pelo aviãozinho que um dia você fez e me deu de presente, e só hoje vejo como ele era lindo. Obrigado pelo pôr do Sol que um dia paramos para vermos juntos e só hoje percebo como ele era alaranjado. Obrigado pelo arco-íris que um dia paramos pra ver e só hoje percebo que as cores eram lindas. Obrigado por todas as idas até a fonte luminosa e só hoje consigo ver como você via que as águas são coloridas. Obrigado pelos nossos jogos de futebol, e só hoje percebo que os gols não eram tão importantes. Obrigado pelas nossas pescarias e só hoje percebo que aquele grande peixe foi um pequeno detalhe, pois em todos estes momentos o importante era ter você ao meu lado.
Obrigado, filho, por tudo que passamos juntos! Você tornou a missão de pai muito mais fácil! Ao seu lado me senti criança! Hoje te vejo um homem, casando, mas nunca se esqueça: ame sua esposa, faça com que este amor aumente cada vez mais, olhe para a Priscila como se fosse sempre o primeiro dia. Agora vocês dois, tenham tempo, creiam e mostrem para a Isabelle um Deus verdadeiro que a amou antes dela se formar. Creiam e mostrem um Cristo que morreu por ela muito antes dela nascer. Nunca estejam cansados para brincarem com a Isabelle, brinquem de pega-pega, esconde-esconde, não tenham vergonha, brinquem de boneca e de casinha, estejam perto quando ela der os primeiros passos e com certeza correrá para seus braços. Ajudem nas lições e não faltem às reuniões na escola. Dêem valor aos momentos ternos, meigos, valorizem as pequenas coisas, pois só assim vocês vão sentir a alegria que um dia eu senti, de ao lado de um filho, me tornar uma criança novamente.
Amamos muito vocês.
Airton – 03/05/2003