Esta carta escrevi em 1977 no dia das crianças.
A Patricinha (Pá) e a Lucianinha (Lú)…
Papai já falou para vocês que hoje é o dia das crianças, e de como fico alegre de tê-las juntinho comigo.
Como todo papai coruja (e isto vocês bem sabem que sou), tentei lhes prestar uma homenagem: fui todo alegre pegar o gravador e ao ligá-lo havia uma gravação onde vocês estavam cantando: “Gosto muito do papai, gosto muito da mamãe.”
Aí vocês sabem: rolou uma lágrima, a voz embargou e não consegui gravar nada.
Sabe, filhas, a mamãe e eu só queremos explicar tudo que sentimos, mas se tentássemos tenho certeza que nos largariam falando sozinhos para brincarem com as bonequinhas (já sem cabeça ou braços), ou então nos diriam: “Ah, papai! Conta aquela historinha dos sete sininhos de ouro que é mais bonita”.
Ser criança é isto: pura até mesmo nas briguinhas, pois um segundo após já estão brincando juntas sem ficar sequer uma rusguinha.
Como é bom ouvir vocês perguntarem: “Mamãe, papai, por que o sapo pula? E por que o cachorro corre atrás do gatinho?”.
São estas e outras perguntas que nos deixam confusos fazendo ver quão puras e inocentes são suas vidinhas e nos aumentam a responsabilidade nos esforçando para prepará-las para a vida.
Pá e Lú, sabe aquela cara feia que a mamãe faz quando vocês vêm todas sujas de terra? Aquela cara feia é só por fora, pois por dentro ela está contente mesmo sabendo que daí a meia hora as roupinhas vão voltar ao tanque.
Vocês bem sabem que o papai não é bravão e parece que se aproveitam, pois é só eu querer dar uma bronca, a cabecinha se abaixa e por traz do olhar já virado para cima, lá vem um sorriso que parece saber comprar a carranca mais feia que o papai sabe fazer. E aí um abraço bem forte, um beijo, um tapinha acariciando o “bumbum” e a voz alegre: “Vai, vai brincar filhinha, vai!”.
Como é bonito ser criança, como é gostoso rolar com vocês na grama, como é bom ouvir suas perguntinhas, como é belo o brilho nos olhos quando me sento na cama para contar historinhas, que momentos lindos, como vocês as ouvem com atenção sem quase piscar.
Quem não tem estes momentos com os filhos, realmente não sabe viver e nunca poderá avaliar o sorriso de uma criança.
Obrigado, Patricinha e Lucianinha, por vocês serem crianças, nada mais.
Seus pais…
Airton e Ritinha