Esta carta escrevi no Dias Das Mães e li na Igreja.
Sabe, mãe, um dia destes passei na rua que morávamos, parei em frente à casa que nasci, foi inevitável, me veio à mente todos os momentos vividos, parecia ouvir tua voz me chamando: “Filho, vem tomar banho, vem tomar café. Filho, vem almoçar! Não come nada, assim vai ficar doente. Já fez a lição? É hora da escola”.
Uma lágrima rolou pelo meu rosto e aí pensei: Mãe não deveria ficar velha.
Me lembro da caneca de café com leite que toda tarde você fazia, o gosto é inesquecível, nunca tomei outro igual. Sentava ao meu lado, parecia que tinha todo tempo do mundo. Aí pensei: Mãe não devia ficar velha.
Me lembro quando todas as noites me levava para a cama, e acariciando meu rosto dizia: “Durma com Deus, meu filho.” Vou te contar uma coisa: era tarde da noite estava com os olhos fechados mas não estava dormindo, você entrou no quarto, me beijou o rosto e disse bem baixinho: “Te amo meu filho”. Então descobri, você fazia isto todo dia. Ai pensei: Mãe não devia ficar velha.
Me lembro da escola, quando no recreio você me levava lanche quentinho, e é incrível, me lembro até como dobrava o guardanapo, sentia todo teu amor. Nunca te vi reclamando que tinha muito trabalho, pelo contrário, cantava o dia todo, e de vez em quando me pego cantando uma de suas musicas. Aí pensei: Mãe não devia ficar velha.
É engraçado, tudo que lembro são gestos puros, meigos, coisas pequenas, que iam me ensinando que a felicidade está bem perto de nós, muito mais perto que pensamos.
Você me ensinou que podemos admirar as grandes avenidas, mas gostarmos da nossa rua. Podemos admirar grandes edifícios, mas amarmos o lar em que vivemos. Podemos admirar um imenso jardim, mas não deixarmos morrer uma simples flor no nosso quintal. Ai pensei: Mãe não devia ficar velha.
De repente sinto bater em meu ombro, viro e surpreso te vejo, te abraço e pergunto:
“Mãe, o que você faz aqui na rua em que morávamos, em frente à casa que nasci?”
“Sabe, filho, mãe também tem saudade. Vim lembrar da felicidade que por muito tempo vivi. Do tempo que você era criança, empinava pipa, andava descalço, jogava bola, vinha para meus braços, corria contra o vento, você tinha mais tempo”.
Chorando interrompo dizendo:
“Deus não fez tudo certo, fez uma coisa errada: mãe não devia envelhecer!”
Aí você me dá mais uma linda lição, enxugando minha lagrimas diz:
“Não, meu filho, Deus fez tudo certo. Mãe nunca envelhece, porque para a mãe o filho sempre é uma criança”.
Airton – 09/05/1999