Esta carta escrevi no dia das mães de 2001, e li na igreja.
Sabe filho, quando você nasceu as dores foram muitas, mas nem senti. Chorei, mas foi de alegria, você era igualzinho eu imaginava, e por sua causa podia ser chamada de mãe. Agradeci a Deus por você.
Saí do hospital, te carregava no colo, queria te mostrar para todo mundo, afinal, era o mais bonito, não tinha outro igual.
Começou a engatinhar, dar os primeiros passos, com confiança corria atrás da formiga, tinha medo do sapo, era inocente de mais. Agradeci a Deus por você.
Começou a falar as primeiras palavras, trocava as letras, era tudo errado, te abraçava e ria, você não se importava.
Me lembro das noites em que ficou doente, passei todas ao seu lado, cantei cantigas de ninar, até inventava algumas, e quando via teu sorriso te pegava no colo, entre lagrimas e abraços agradecia: “Meu filho está curado!” Engraçado, nunca me senti cansada. Agradeci a Deus por você.
Me lembro do primeiro dia quando te levei para a escola, foi fazendo tchau, me jogando beijos. Segurava as suas mãos, te ajudava nas lições de casa e guardo até hoje o papel onde pela primeira vez você escreveu com letras tortas: Mamãe.
Me lembro de suas brincadeiras: corre-corre, esconde-esconde, futebol. E ao findar do dia pedia que te contasse historias, estava cansada, mas parecia que o dia começava agora, te falava de príncipe e princesas, de Deus e sua grandeza, e sempre adormecia em meus braços. Agradeci a Deus por você.
Se tornou adolescente, já não concordava com muita coisa que eu falava, estava descobrindo o mundo, parecia que queria contestar, minhas histórias ficaram velhas, ultrapassadas, minha conversa não serve mais, músicas barulhentas, respostas curtas, tem vergonha de me beijar, mas eu espero, tudo isto vai passar.
Já adulto quis sair de casa, afinal, já não ajudo muito, as vezes até atrapalho, meus passos estão lentos não consigo te acompanhar. Você corre muito, não tem tempo de parar, saiu batendo a porta, bravo, dizendo que não voltava mais.
Hoje estou sozinha, meus cabelos já são brancos, não tenho a mesma força, só me resta a saudade do tempo que você era criança, corria para meus braços, adormecia em meu colo, abraçava bem forte meu pescoço, beijava meu rosto e dizia que me amava… Mas espere, a porta se abre, conheço seus passos, você vem ao meu encontro e num longo abraço me pede para te perdoar.
Não, filho, não diga mais nada! Hoje meu coração está em festa, talvez o mundo nunca entenda…
… Mas mãe só nasceu para amar!
Airton – 13/05/2001