Esta carta escrevi no dia dos pais.
Sabe, pai, um dia destes estava reparando no senhor e pude sentir que seus passos já não são tão rápidos e firmes como antes, já se pode sentir as marcas do tempo, tempo este dedicado aos filhos.
Pai, quero te dizer que em minha vida aprendi e até hoje aprendo muito com o senhor, e agradeço a Deus por tudo que representas pra mim.
Obrigado, pai, por aquela pipoca que comemos juntos no circo, por aqueles filmes que assistimos juntos. Obrigado, pai, por meu primeiro relógio, pela minha primeira bicicleta, pelos gols que gritamos juntos pelo mesmo time. Pelo papo amigo, pelas palmadas que levei e por aquele olhar sério que valia mais que uma boa surra. Obrigado por me ensinar que temos um Deus a quem devemos honrar e glorificar. Enfim, obrigado porque esteve presente em todos os momentos de minha vida.
E hoje, neste dia que é dedicado ao senhor, quero te pedir desculpas se alguma vez te magoei. E como no tempo em que era criança, quero te pedir: “A tua bênção, meu pai”, e ouvir sua mesma resposta: “Que Deus te abençoe, meu filho, durma com Deus”.
Mas como Deus em sua infinita sabedoria não faz nada por acaso, primeiro nós somos filhos, e depois nos tornamos pais. E eu queria agora, como pai, agradecer a você, meus filho, por tudo que representa em minha vida.
Sabe, filho, quero te pedir desculpas se às vezes não sou o pai que você queria que eu fosse. Me desculpe se na correria da vida eu te deixo de lado. Me desculpe, filho, se fico bravo quando me interrompe a leitura de um jornal querendo brincar. Me desculpe se te repreendo e ergo a voz quando estou assistindo televisão e você quer conversar. Me desculpe pela bicicleta que você pediu que concertasse e preferi levar na bicicletaria. Me desculpe, filho, quando vem mostrar suas lições e notas da escola e eu digo que depois vejo, e este depois nunca chega. Me desculpe se meu trabalho e os noticiários me tomam todo tempo e eu não tenho tempo nenhum para te ouvir contar sobre você e suas coisas.
Sabe, filho, se Deus me desse um pedido para fazer, mais que depressa diria:
“Gostaria, nem que seja por um dia, ser criança novamente e viver um dia com meu filho sem que ele perceba que sou seu pai.”
Queria sentar ao seu lado na escola, te emprestar meu lápis, te ajudar nas lições. Na hora do recreio queria ser teu parceiro na queimada, o goleiro do seu time. Queria repartir com você meu lanche de pão com manteiga. Depois da escola queria dar uma volta de bicicleta com você pelo bairro, queria junto com você fazer uma pipa e descalços corrermos contra o vento.
Filho, eu quero ser teu palhaço, teu cavalinho, teu herói, quero ser mais que seu pai…
Eu quero ser seu amigo!
Airton – 09/08/1987