Esta carta escrevi no dia dos pais e li na Igreja em 1999.
Ah! Como este mundo é engraçado, dá voltas rápidas demais, o relógio não para, o tempo voa, de criança me tornei adulto, de menino me tornei pai. Os filhos nascem, não tenho tempo. Se tornam adolescentes, não tenho tempo. Jovens, não tenho tempo. Se casam, não tenho tempo.
Mas se pudesse segurar o mundo, parar os ponteiros do relógio, voltaria no tempo, te veria crescer bem devagar, aproveitaria cada segundo ao teu lado. Ah! Seria um verdadeiro pai.
Iria a maternidade buscar tua mãe e orgulhoso te carregaria no colo. Faria mais mamadeiras, trocaria mais fraldas, não reclamaria de acordar à noite; te faria adormecer mais em meus braços e admiraria teu sono tranqüilo.
Te tomaria pelas mãos e ensinaria andar, te contaria mais historias e as repetiria quantas vezes pedisse. Faria pipas que desaparecem nas nuvens, ou que nem saíssem do chão. Ah! Seria um verdadeiro pai.
Chutaria mais bola e nem me importaria se fosse artilheiro ou perna de pau. Brincaria mais de esconde-esconde, como se a casa fosse o mundo e como se o mundo não existisse. Não faltaria a uma reunião na escola, olharia seu boletim com mais atenção, e nunca te daria bronca em frente a outras pessoas pra você não se envergonhar. Sentaria mais vezes no chão, rolaria pela grama e deixaria você me tocar com as mãos meladas de bala. Sairia com você na chuva, brincaria na goteira do telhado, pisaria nas poças d’água. Iria pescar e não ficaria bravo de colocar as iscas ou retirar os peixes. Ah! Seria um verdadeiro pai.
Olharia mais para o céu, te mostraria as estrelas, daríamos nomes a elas, e do alto de uma colina veríamos juntos o nascer e o pôr do Sol. Queria sentir com você o cheiro da grama molhada. Iria mais ao cinema, circo, ao parque, comeria mais pipoca, algodão doce.
Te daria mais atenção quando viesse falar de namoro, visitaria mais vezes tua cama ao anoitecer, não dormiria uma noite sequer, sem orar com você e por você. Te levaria mais a Igreja, falaria de Deus e do seu amor, de Cristo e do seu perdão.
Mas o mundo não para, da voltas rápidas demais, o tempo voa e fico me perguntando:
Quando foi que não te vi crescer?
Quando saiu do banco de trás do carro, passou para o volante e foi dirigir sua própria vida?
Quando você parou de brincar com bonecas e quis ter sua própria casa?
Quando foi que parou de brincar de escolinha e entrou para a faculdade?
Quando foi que você parou de brincar com meu creme de barbear e passou a fazer a própria barba?
Agora estou velho, tenho todo tempo, vou avisar a todos os pais que não façam igual a mim, que o mundo da voltas rápidas demais, o relógio não para! Mas não adianta, eles não me ouvem, não tem tempo…
Eles tem filhos pequenos demais!
Airton – 08/08/1999