Cartas e recordações

Mãe

COMPARTILHE

Um texto sobre mães. Li, gostei e copiei.

Hoje eu volto a te ver na antiga sala,
Onde uma noite te deixei sem fala,
Dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
Porque sina de mãe é esta sina:
Amar, cuidar, criar, depois perder.

Não! Devo voltar, ser esquecido!
Mas que foi? De repente ouço um ruído!
A cadeira ranger, é tarde agora.
Minha mãe se levanta abrindo os braços
E me envolvendo num milhão de abraços
Rendendo graças diz: “Meu filho!” E chora.

Perder o filho é como achar a noite,
Perder o filho quando grande e forte,
Já podia ampará-la e compensá-la.
Mas de repente uma mulher bonita
Sorrindo o rouba. E a velha mãe aflita
Ainda se volta para abençoá-lo.

E treme, e como fala e ri,
Parece que Deus entrou aqui
Em vez do último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
É quase como se o céu me perdoasse.
Me lavasse de todos os pecados

Assim parti e me abençoaste,
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
Fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
Olhando o leito que deixei vazio,
Cantando uma cantiga de ninar.

Mãe, nos teus braços me transfiguro!
Lembro que fui criança, que fui puro,
Sim, tenho mãe, e esta ventura é tanta,
Que eu entendo o que significa:
O filho é pobre, mas a mãe é rica,
O filho é homem, mas mãe é santa.

Hoje volto coberto de poeira,
E te encontro quietinha na cadeira,
A cabeça pendida sobre o peito.
Quero beija-te a face e não me atrevo,
Quero acordar-te, mas não sei se devo
Sinto que não me cabe esse direito.

Santa que fiz envelhecer sofrendo,
Mas que me beija como agradecendo,
Toda dor que por mim foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
Mas tu me olhas, num olhar tão doce,
Que nada tendo, não te falta nada.

Eu te esqueci, as mães são esquecidas
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
E só agora quando chego ao fim
Traído pela ultima esperança
E só agora quando a dor me alcança
Lembro que nunca se esqueceu de mim.

Dia das mães é o dia da bondade,
Maior que todo mal da humanidade
Purifica num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
Enquanto a mãe cantar junto a um bercinho,
Cantará a esperança para o mundo.

Airton – 29/09/1989

COMPARTILHE
Envie-nos uma mensagem