Hoje acordei, olhei por entre as frestas da janela a chuva que caíra a noite toda insiste ainda em cair.

O que fazer num dia assim? Assistir TV, voltar a deitar e preguiçosamente esperar a chuva passar, mas de repente me deparo com um baú, daqueles antigos de guardar brinquedos. Pronto, já achei o que fazer, consertar os brinquedos até que os filhos acordem.

Coloco as rodinhas num carrinho de plástico, um barbante para ficar mais fácil de puxar, um bonequinho está sem a cabeça é só colocar, o aviãozinho sem a asa, é só colar, a bola está meio murcha, é só encher, as peças de lego todas espalhadas, é só juntar, a casinha e as bonecas vou dar um jeito.

Pronto, tudo certinho, agora é só esperar as crianças acordarem, onze horas, meio dia e nada, ninguém acorda para brincar. Mas espere, agora me lembrei, não tenho mais filhos pequenos, todos adultos, alguns até já são mães e pais, engraçado, comecei a pensar, quando temos tudo perto não damos tanto valor, parece que temos o dom de pararmos a vida, estancarmos o tempo e quando quisermos voltamos, no dia e hora que quisermos, mas o tempo não para, o encanto que estes brinquedos tinham hoje não tem mais.

Começo a me perguntar, porque brinquei tão pouco com os filhos? Porque rolei tão pouco pela grama, porque não consertei os brinquedos quando eles eram pequenos, porque não parei para ver o nascer do sol com um filho, porque eu andava sempre apressado?

Talvez, é talvez eu pensasse que poderia parar o tempo e voltar na hora que eu quisesse,mas não é bem assim, o tempo não para.

Fecho o baú, olho por entre as frestas da janela, a chuva insiste em cair, o que fazer num domingo preguiçoso assim, talvez voltar dormir. Espere ouço um barulho, é de criança, talvez quatro ou cinco, mas parece quarenta ,cinqüenta, são os netos chegando, é alegria pura, agora é hora, vou abrir o baú, pegar os brinquedos que acabei de consertar, brincar, brincar,  até não mais aguentar, pois o tempo não para e nunca voltamos na mesma hora, no mesmo lugar.