Cartas e recordações

O que está faltando?

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Esta carta escrevi em New York quando fomos passear, a Rita e eu.

A vocês…

Já é madrugada, acordo, e meio sem sono começo a pensar: Esta cidade é completa, mas falta alguma coisa que não sei explicar. Procuro defeitos e não encontro. As ruas e avenidas são grandes, movimentadas, carros de todos os tipos, indo e vindo. Mas espere, o que está faltando?

As pessoas lotam as calçadas da 5ª Avenida numa mistura de raça, cor e crença, sinto o coração bater mais forte. Mas espere, o que está faltando?

As lojas, sim as lojas. Nelas encontro de tudo o que pensar, me encanto com a beleza e me admiro com o tamanho. São tão grandes que em um só dia passam por elas quase que toda a população da minha cidade. Mas espere, o que está faltando?

Os prédios são altos e imponentes, parecendo tocar as nuvens. O Central Park é lindo, as folhas mudando de cor e caindo, os lagos espelhados. Mas espere, o que está faltando?

Tudo está enfeitado, luzes de todos os tipos e cor. A árvore é uma das maiores do mundo, está chegando o Natal, e Jesus espera nascer de novo, desta vez no coração do homem. Mas espere, o que está faltando?

Por um instante o pensamento voa, chego aí, onde nasci e brinquei descalço, pés no chão, corri contra o vento atrás de uma bola ou uma pipa, fiz meus planos, plantei meus sonhos, encontrei o amor, me casei, tive filhos… Filhos… Espere! Encontrei o que falta nesta cidade: são vocês ao nosso lado.

Uma lágrima rola pelo meu rosto e sinto saudades das coisas simples. Do dia que fui aluno e professor, mocinho e bandido, papai e filhinho, de empurrar o carrossel, de embalar o sono e os sonhos, de brincar de bobo e caçador, de quando adormeciam em meus braços ouvindo contos de reis e rainhas, príncipes e princesas, de rolarmos juntos na grama, da pipoca e do algodão doce que até hoje tem um gosto muito especial.

Saibam meus filhos que nestas pequenas coisas está à verdadeira felicidade e desejo de todo meu coração que nunca percam isto em suas vidas.

Podemos admirar as grandes avenidas, mas gostamos da nossa rua. Podemos admirar os suntuosos edifícios, mas amamos o lar que vivemos. Podemos admirar um enorme Central Park, mas não deixamos morrer uma simples flor em nosso jardim.

Podemos ser mais um em uma enorme avenida, mas sermos alguém onde vivemos, a levarmos carinho, compreensão e amor… Sim, o amor, pois só por ele se vale a pena viver, e por isso eu vivo!

Eu os amo muito!

Pá, Lú, Jú, Má, Marcos, Giovannnnnnnna. Um Beijão a Todos

Papai e mamãe.

Airton – New York – 03/12/1996

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