Cartas e recordações

Olhos verdes

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Um dia, ainda jovem resolvi sair, sem planos, mas com muitos sonhos e uma kombi verde, velha, minha companheira inseparável.

Fui até uma cidade próxima, desci no jardim como sempre fazia, nada de anormal. Mas me chamou a atenção uma menina de roupas comuns, chinelo nos pés, cabelos bem curtos, mas seus olhos… seus olhos eram verdes.

Puxei conversa sem saber o que dizer, papo destes que talvez hoje não desse em nada, mas não sei bem o porque ela gostou, marcamos para nos encontrar no outro dia, e quero confessar que foi a noite mais longa da minha vida, pois queria ver logo o outro dia chegar para novamente encontrá-la, pois só me lembrava de seus olhos, pois eles eram… eram verdes.

Engraçado, o que estava acontecendo comigo? Depois deste dia não conseguia ficar um minuto sequer sem pensar, sem vê-la, sem falar, e bastava uma briga e sentava ao lado do telefone torcendo para ele tocar.

Um ano de namoro, o casamento, a igreja era pequena, tinha pouca gente, mas eu muito contente segurei em tuas mãos trêmulas e perguntei: “Você está feliz?”

Mas em meio a tudo o que me chamava mais a atenção eram… eram seus olhos verdes.

Vieram os filhos. Trocar fraldas, fazer mamadeiras, sem dormir a noite inteira, aprendemos histórias de príncipes e princesas, cantigas de ninar, de Deus e sua grandeza, esconde-esconde, pega-pega, brincadeiras de roda. Você era toda paciência. Mas o que me encantava em tudo, eram… eram seus olhos verdes.

Nossa primeira casa, sorrisos e lágrimas, algumas enfermidades, vitórias e derrotas, mas sempre ao meu lado dizia: “Tudo isso vai passar!”

Os filhos um a um foram casando, a casa foi se esvaziando, te pego olhando para o infinito e num abraço me diz: “Estamos como começamos: só nós dois.” Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas o que me encantava em tudo é que eles eram… eram verdes.

Vieram os netos, um, dois, três… dez, e você toda contente, banho de mangueira, esconderijo de chocolates, escorregar na área, todos querem dormir ao teu lado, sair tomar garapa e sorvete. Você é muito fácil de ser amada. Mas o que me encantava em tudo eram… eram seus olhos verdes.

Agora a idade chegou, nossos cabelos já são brancos, nossos passos lentos, carregamos as marcas do tempo, mas é muito engraçado, pois quando te olho ainda vejo a menina do primeiro dia, aquela do jardim, e eu, eu continuo o mesmo, pois não consigo ficar um dia sequer longe de você, e tenho vontade de fazer sempre a mesma pergunta: “Você está feliz?” E ouvir sempre a mesma resposta como aquele dia na igreja, simplesmente: “Sim”.

Pois o que me encanta em você é que seus olhos…

…CONTINUAM VERDES!

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