Cartas e recordações

Porquê?

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Hoje acordei bem cedo, a casa estava quieta, não tinha barulho nenhum. Os netos todos dormindo. Aí comecei a pensar, e as recordações eram tantas que foi impossível uma cena não imaginar.

Deus, eu sei, não se questiona. Mas se no céu eu chegasse só uma pergunta queria fazer:

“Porque, Deus, porque envelhecemos? Porque o tempo não para quando nossos filhos são pequenos?”

Aí ficaria com eles bem ao meu lado, andaria de mãos dadas, iria sempre ao cinema, no parquinho, iria sempre pescar, iria levá-los na escola, nas reuniões em nenhuma iria faltar. No time deles seria o goleiro, talvez um frangueiro, artilheiro ou um perna de pau, não tem importância, só queria participar. Queria que adormecessem sempre nos meus braços, os levaria sempre para cama, acariciaria os cabelos e sussurrando no ouvido, diria que sempre vou amar.

Porque Deus, porque envelhecemos?

Porque não podia parar quando conheci minha esposa? Nós ainda muito jovens, os sonhos eram tantos, escrevia cartas, quando brigávamos, chorava, sentia sua falta, ficava ao lado do telefone esperando ele tocar. Enfrentava escuro, estrada de terra, confesso que tinha medo, mas toda noite ia vê-la, só para um pouco ao seu lado ficar.

Aí, como que por encanto parece que ouvi Ele me falar:

“Fiz o mundo todo perfeito, algumas coisas o homem fez questão de estragar. Sabe porque você envelhece? Sente aqui e vou te contar: Se não fosse assim, você não daria valor, teria todo tempo do mundo, deixaria tudo para depois. Mas deixei em todos o coração que é para destes momentos sempre se lembrarem!”

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