Um fogão de lenha já meio empoeirado num canto da cozinha, de repente minha pressa acabou, parei com a correria, peguei em minhas mãos um bule de café que antes era quentinho. Ah, Pai, me lembrei de você no mesmo instante.
Me lembrei quando toda tarde, como que por encanto, era atraído para perto daquele fogão e você me esperava e enquanto preparava alguma coisa me contava contos, contava historias, me falava de Deus, da importância da família, me bateu no peito uma saudade, agradecia a Deus por ter me dado você como pai. Queria que o tempo voltasse, que eu fosse criança novamente, correria mais para teus braços e num longo abraço iria dizer que te amo. Ficaria mais ao teu lado, ouviria todos os teus conselhos, pois hoje eu percebo, você era um grande sábio, pai.
Saudade, saudade do cavalinho de madeira, de uma corda feito balança pendurada na mangueira, das fubecas, do peão, da bola de meia, da rede na varanda. E engraçado, pai, me deu uma saudade até de quando você fazia cara feia. Saudade do piquenique, do circo, do parque, de andar na garupa da bicicleta, das pescarias em noite de lua cheia, das figurinhas, do dia que em um rio você me ensinou a nadar e afastando-me dizia “vem”, e eu não tinha medo de afundar.
Mas o tempo não para, passa rápido demais, seus cabelos já estão brancos, seus passos estão lentos, mas me ficou a lembrança do tempo que eu era criança, tempo que não volta mais.
Hoje tenho meu filho, quero para ele ser um exemplo, quero ser o que você foi para mim, bom pai, dar carinho, ter tempo.
Tempo de fazer uma pipa, de correr contra o vento, de brincar de esconde-esconde, quero ir até a escola, participar das reuniões, conhecer a professora, sentar na carteira que meu filho senta, quero construir castelos na areia, contar historias, não me importo de ser o rei ou o bobo da corte, quero dar menos broncas e dar mais beijos, quero ter tempo para dar mais abraços e dizer que amo. Mas espere, a porta se abre, você vem com um feixe de lenhas, vou chamar meu filho, teu neto, quero que ele também venha. E segurando em minhas mãos com voz tremula você diz: “Vá, traga seu filho, ser pai é uma coisa simples que as vezes complicamos demais. Simples como um fogão a lenha, uma bola de meia, um cavalinho de madeira ou uma corda feito balança pendurada na mangueira. Pois assim seu filho vai ter saudade do tempo de criança…
… tempo que não volta mais!”
Airton – 12/08/01