Sabe, Marcelo (o nosso Má), hoje fiquei muito triste quando você me chamou de “senhor perfeição”, e não é a primeira vez que me diz isto. Saiba, filho, que nunca procurei passar a você e nem a nenhum de seus irmãos a imagem de um pai perfeito, mas sim um pai que erra muito e disto peço sempre perdão a Deus em minhas orações. O que procuro passar é o enorme amor que sinto por você, embora nem sempre consiga, e te peço desculpas por isto.
Quero nesta carta abrir meu coração com você e te dizer algumas coisas que espero que entenda. Não quero ser só seu pai, quero ser seu amigo, te dar a mão, te ajudar, ser teu ombro, enfim, caminhar junto.
Tenho te sentido um pouco distante, respostas um tanto agressivas, atitudes ásperas e não próprias suas. Sabe, Má, talvez isto seja próprio da sua idade ou da evolução do mundo e como já estou um pouco velho não me acostumo com estas coisas e preferia que tudo fosse como antes.
Quero que fique bem vivo em teu coração que não estou criando um filho para mim, mas sim “um homem para o mundo”, e estou muito feliz pela tua religiosidade, pelo teu interesse no conhecimento de Deus e pelas obras da Igreja, mas lembre-se Má: é muito fácil olhar um crucifixo, mas é muito difícil carregar a cruz, e espero que você e eu a carreguemos com dignidade.
Hoje fiquei muito triste e nem conversei com você, meu coração ficou partido, não fiquei em paz comigo mesmo e isto é muito ruim. Talvez o erro seja todo meu e te peço que me ajude a corrigi-lo, é como te disse: talvez você esteja crescendo e não estou percebendo isto. Só não queria ficar um pai chato, que não trouxesse alegria para a família.
Fica em tudo e por tudo só uma certeza:
Eu te amo bastantão, do fundo do coração!
Airton – 06/07/1996