Esta carta li na Igreja no Dia Das Mães.
Sabe mãe, esta noite estava cansado, dormi e comecei a sonhar.
Sonhei que era um recém nascido, era feinho e você me achava lindo, o dia inteiro me carregava e a noite era só precisar e já estava ao meu lado. Te vi sorrir e chorar.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei que era uma criança aprendendo a andar. Me dava as mãos, me dava confiança, tinha todo tempo do mundo. Meu primeiro passo, ah mãe! Te vi sorrir e chorar, era como se fosse o atleta mais veloz do mundo a ganhar uma medalha.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços, e ai me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei que era uma criança aprendendo a falar, estava ali ao meu lado ensinando: “Mamãe, papai”; bastou que dissesse “Mamã”. Te vi sorrir e chorar, e aí saiu gritando: “Meu filho sabe falar!”. Era como se eu fosse o maior orador do mundo.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei indo à escola, aprendendo a ler e escrever. Sentava ao meu lado, mesmo com teu pouco saber segurava em minhas mãos e me ensinava: “Meu filho já sabe escrever!”. Era como se fosse o maior poeta.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei que era adolescente, queria descobrir o mundo, conquistar meu espaço, escolher meus amigos, ter meus próprios caminhos, afinal, ah mãe! Afinal já sou grande, não preciso mais de seus conselhos, quero caminhar com meus próprios passos.
Mas que engraçado, era só precisar e estava ao meu lado, dando as mãos, mostrando o caminho. Te vi sorrir e chorar.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei que já era adulto, me casando, querendo ser esposo e pai, ser independente, ter meu lar. E você dizia: “Meu filho já é homem feito”. Te vi sorrir e Chorar.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sonhei que a senhora já era idosa, passos lentos, muitas marcas do tempo, mas com dificuldade você chega, passa as mãos em meu rosto e com voz tremula diz: “Meu filho, você é moço”. Te vi sorrir e chorar.
Num abraço, cabia direitinho em seus braços. E aí me perguntava: porque mãe não cansa?
Sabe, mãe, aí acordei deste sonho, levantei, fui te procurar. ” Vem, mãe, me abrace. Que bom eu ainda caibo em seus braços!” Te vi sorrir e chorar; aí continuei a me perguntar:
Porque mãe não cansa?
Airton – 11/05/1997