Sabe filho, um dia me perguntaram o que eu mais amava na vida. Sem titubear, no mesmo instante respondi: o que mais amava na vida era você!
Te amei quando um dia te planejamos, quando ainda te carregava em meu ventre, conversava, cantava, te acariciava, mesmo sabendo das dores, não via a hora de você nascer. Imaginava o seu jeito, a cor dos seus cabelos e quando me perguntavam logo respondia: o que mais amava na vida era você.
Sai da maternidade toda orgulhosa, afinal já era mãe. A primeira fralda, o primeiro banho, você cabia nas minhas mãos, seu perfume inesquecível, sinto até hoje! O sorriso maroto, os primeiros passos, quando corria para meus braços e me chamava de mamãe. E quando me perguntavam logo respondia: o que mais amava na vida era você.
Seu primeiro dia na escola, te arrumei com a melhor roupa, a melhor que pude comprar, te levei de mãos dadas. Quero te confessar uma coisa, você entrou, mas por algum tempo fiquei parada no portão, pois para mim era muito estranho me afastar de você, nem que fosse por pouco tempo.
Sua volta para casa, as lições, as tabuadas, as letras erradas, eu te ajudava em tudo, nunca me cansava, engraçado, com meu pouco estudo, até parecia professora, os problemas que para você eram grandes, para mim eram pequenos demais. E quando me perguntavam logo respondia: o que eu mais amava na vida era você.
Te vi crescendo, adolescente, já não precisava tanto de mim, não gosta de andar de mãos dadas, que te abrace e beije na frente de amigos, minhas opiniões são meio caretas, meus conselhos são velhos, ultrapassados, quase todos você contesta, já sabe tudo da vida, deles não precisa mais. Mas quando me perguntavam logo dizia: o que mais amava na vida era você.
Um dia, não entendi muito bem, você chegou e me disse: “Mãe quero conhecer o mundo, esta casa ficou pequena para mim, ter novos amigos, novas idéias, aprender coisas que ao seu lado nunca conseguiria”. Com lágrimas nos olhos te aprontei as malas, coloquei as melhores roupas, as melhores que pude comprar.
Te vi partindo, na estrada, o ônibus parecia ir rápido demais. E quando me perguntavam logo respondia: o que mais amava na vida era você.
Hoje revejo as fotos antigas, que o tempo não conseguiu apagar, e não me arrependo de nada, passaria tudo de novo, trocaria a primeira fralda, daria o primeiro banho, perderia noites de sono controlando sua febre, cantaria para você dormir, ia te levar para escola de mãos dadas, com a melhor roupa, a melhor que pudesse comprar, te esperaria no portão. Não tenho dúvidas, passaria tudo de novo, nem que fosse só para sentir o inesquecível perfume dos seus cabelos.
E quando me perguntavam logo respondia: o que mais amava na vida era você.
De repente a porta se abre. Filho, você está de volta! E num abraço entre lágrimas começa a me contar: “Sabe mãe, dei muitas cabeçadas na vida, não soube escolher meus amigos, trilhei caminhos errados, achei que sabia muito, mas não sabia nada. Achei que tinha muito, mas na verdade não tinha nada. Quando minhas forçar acabaram, encontrei um papel todo amassado bem no fundo da minha mala, abri, sua letra era inesquecível, e nele dizia: Filho, aconteça o que acontecer, quando me perguntarem não terei duvida em responder: O que mais amo na vida é você. Mãe, hoje estou de volta, trago comigo minha esposa e meus filhos, teus netos, para você conhecer, quero rever fotos, ouvir seus conselhos.”
Sabe filho, não tive muito estudo, mas uma coisa quero te dizer: Ame sua esposa, pergunte o jeito que ela gosta de ser amada, compartilhe seus momentos. Quanto aos filhos, de banho, troque fraldas, cante cantigas de ninar, jogue bola, brinque com bonecas, leve para a escola de mãos dadas, ajude nas lições, não perca as reuniões, tente sentir o inesquecível perfume de seus cabelos, faça tudo com muito, muito amor, mas depois de tudo isto, se um dia você precisar, não tenha vergonha, pegue um papel, escreva, coloque no fundo da mala com o seguinte dizer:
“Se um dia me perguntarem não terei duvida de responder: O que mais amo na vida é você!”
Airton – 07/10/05