Eu sou do tempo que o telefone só servia para telefonar,
Que a caneta só servia para escrever,
Que a lanterna só servia para clarear,
Que o relógio só servia para marcar as horas,
Que a máquina de escrever só escrevia,
E a de calcular só calculava,
Que o gravador só gravava,
Que a máquina fotográfica só fotografava,
Que as cartas eram escritas à mão,
Que o jardim era para todos,
Que o cinema era em um prédio só para ele,
Que a lua era só dos namorados,
Que os professores eram respeitados,
Que o papo era olho no olho,
Que o pai era chamado de senhor, e a mãe de senhora,
Que um presente valia até o outro natal,
Que a bola era de capotão,
Que as traves eram de bambús,
Que nosso campinho era o Maracanã,
Que nosso mundo era a rua de terra,
Que a piscina era o ribeirão.
Com tudo isto e muito mais que poderia escrever, só fica uma certeza:
Pô, to velho!