Cartas e recordações

Páscoa – 1994

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De repente me senti só, o que antes era conversa, barulho, agora está tudo quieto. Nem mesmo o suave vento a balançar as folhas que tantas vezes me encantou, já não tinha o mesmo encanto. O silêncio era tanto que me deixava nervoso, a paz era tanta que me deixava inquieto. Sozinho eu podia ver e sentir toda beleza da natureza, mas pude sentir acima de tudo a falta que faz o ser humano junto a esta natureza. Sim, eu estava de frente para um lindo gramado, mas que ontem foi um maravilhoso campo de futebol. Duas traves feitas com chinelos, uma bola de borracha e todos nós em meio a sorrisos, dribles e brincadeiras, nos sentimos um pouco Pelé, Garrincha, Ronaldo, Raí, e palhaços de um mesmo circo, que é a vida.

A vara de pescar encostada na parede já esteve em nossas mãos a sonharmos com grandes peixes ou simplesmente com grandes mentiras. Vocês talvez nunca entenderão… o “Preto” saiu da garagem, veio se deitar perto de mim como que me entendendo e eu a ele, pois agora estávamos “cheios” de um vazio muito grande. Isto tudo estou escrevendo para que sintam o que estou sentindo e quero lhes mostrar para que possam levar de herança por toda vida:

Muitas vezes temos tudo, mas não temos nada.
Muitas vezes não temos nada, mas temos tudo.
Muitas vezes somos tão ricos, mas somos tão pobres.
Muitas vezes somos tão pobres, mas somos tão ricos.
Muitas vezes estamos tão pertos, mas tão distante.
Muitas vezes estamos tão distante, mas tão perto.

E na maioria das vezes somos tão felizes e não percebemos.

É incrível como em uma fazenda imensa, quatro chinelos, sim apenas quatro chinelos, me trouxeram uma alegria tão grande ao ponto de transbordar meu coração e encher de lágrimas meus olhos.

É isso aí, pessoal, o mundo é feito de pequenas coisas, mas de um grande valor, e que vocês possam por toda vida enxergarem e sentirem estas pequenas coisas, pois com toda certeza elas vos trarão a felicidade duradoura, a paz que ninguém pode tirar.

E que Deus em sua imensa bondade e sabedoria nos conceda a graça de cada vez mais valorizarmos a família, não apenas nos amando, mas acima de tudo demonstrando nosso amor. Não apenas vivendo, mas acima de tudo transmitindo vida. Não apenas sorrindo, mas acima de tudo nunca fazendo alguém chorar.

E se assim fizermos temos a certeza que não teremos simplesmente passado pelo mundo, e sim vivemos e transmitimos vida ao mundo.

Amo muito vocês! Feliz Páscoa.

Airton – 03/04/1994

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